No meio do caminho tinha um aborto…

Aborto foi um tema que inspirou a jornada da revista # 2 desde seu planejamento de pauta, que começou no inverno de 2014 após reler a pergunta: [Onde vou Parir? Por que refletir sobre isso?] Eu cheguei a falar com feminista, a me envolver com a pesquisa de política pública sobre aborto e até recorrer às minhas mestras do sutil para entender como inserir o tema ABORTO numa revista para mulheres sobre Parto.

Eu jamais imaginei que aquela força da morte regeria o fim da Coleção Clarear e que a temática só existia no projeto porque seria a ação que eu deveria tomar como idealizadora desta jornada. Abortar o projeto no meio do caminho? Sim! Essa foi a dor que eu precisei materializar para fazer a justiça que eu tanto prezo no mundo com as mulheres.CAPA-FACE

Chegou a hora do meu parto com a Clarear. Preciso abandonar as duas perguntas, que eu me comprometi a investigar no meu lugar de jornalista+pesquisadora de Educação Pré-Natal+ puérpera, na primavera de 2013. Sinto muito pela morte, meus caros 153 benfeitores que investiram nesta jornada. Mas é o que eu posso entregar agora.

Mudaram as estações…e, ao contrário daquela música famosa do Legião Urbana, eu mudei muito. Deixei de ser puérpera, mãe de bebê que amamenta, engatinha, anda, fala e pensa para tornar-se uma mãe de duas crianças, que já conquistaram seus espaços dentro de casa e precisam conhecer o mundo.

Essa virada pessoal que eu preciso dar dentro de mim reverberou muito no caldeirão da Clarear com a pergunta Onde Parir? Por que refletir sobre isso? Reverberou tanto que eu cheguei a acreditar que a sustentabilidade era um desafio da rede, que costuramos em volta de nós para distribuir a Clarear. Perdão, mulheres amadas (maioria, doulas ou empreendedoras do parto) pelo espelho projetado.

Não há dúvida que o desafio do dinheiro é comum, mas nossas trocas contribuíram para eu conscientizar-me do valor que preciso encontrar em mim para crescer como mãe no tamanho das necessidades das minhas filhas, que me moveram com tanta intensidade a ponto de me costurar ao peso da responsabilidade familiar financeira. OBRIGADA!!!!

Mulheres do Mapa Clarear, vocês são responsáveis pela coragem que eu adquiri em parir-me mulher independente e autônoma, inclusive financeiramente. Pra isso, eu preciso abortar este projeto. Sinto muito!

Fim do caminho!
luNesta jornada, eu tive a oportunidade de participar de um ritual de morte muito íntegro, coordenado por uma das mulheres que tornou-se ícone na minha vida: Luciana Benatti. Dentro do abraço que recebi dela, eu lembrei de um sonho de uma das mulheres que eu entrevistei nesta jornada: o sonho de começar a colocar em prática a educação para nos prepararmos para a morte assim como temos feito com o nascer na Terra.

Essa é uma das razões pelas quais eu continuo aqui dedicada à Clarear para finalizar a meta do projeto de imprimir revistas de graça para gestantes do Brasil. Quero ritualizar a morte da coleção Clarear com dignidade humana. Por isso, planejo esse fim até setembro.

A revista, como dissemos na campanha da Benfeitoria, está 80% pronta. Mas ainda não está madura o suficiente pra materializar-se. Temos os ajustes finais de edição e diagramação. Tem sido um esforço árduo (meu e de Luca) para fechar este ciclo. Mas resolvemos tomar essa decisão do aborto consciente. E determinamos que até primavera de 2016 vamos finalizar as pendencias. Não vamos mexer no inacabado, no imperfeito, no caos. Há textos combinados, cujas versões entregues não ganharam suas formas. Há pautas definidas e contatadas, que não houveram tempo de feitura. Isso será enterrado agora.

Somente os processos que já se materializaram que vamos finalizar: edição de textos, que aguardam os feedbacks das autoras ou integração de conteúdo que precisa ser aprimorado pra ganhar a forma adequada da mensagem. Lara Werner é uma das mulheres, que aceitou doular esse meu aborto, além de Luca.

Também me apoio (mas elas não sabiam) em Sandra Sisla, Ana Luiza, Ciça Lessa, Carla Ferro e Lúcia Sígolo pra partir com uma dor digna cheia de alegria de missão cumprida. Eu espero que você reconheça esse aborto como um mérito de uma mãe que sente a necessidade de parir-se mulher no mundo dos homens para se tornar livre e sentir-se íntegra. E, se isso acontecer assim com essa minha vontade, eu espero que a rede nasça para cumprir com a meta da Clarear de distribuir de graça, no mínimo, 2 mil unidades da revista que eu vou fechar até setembro do lado da Luca Fernandes e Lara Werner.

Conheça aqui o  que foi previsto na Revista#2. Vamos, em breve, entregar no formato de pdf via email o material prometido aos benfeitores e, gradativamente, soltaremos aqui e no Facebook links para os downloads das reportagens. Vamos doar todo este trabalho e deixar na sua mão o mérito de decidir se a Clarear merece, ou não, ser impressa na primavera de 2016. Você doará o valor que considera justo para seu bolso para criarmos o chão que a Clarear puder ter até dezembro de 2016, ou não.

Abraços fraternos
Ceila Santos

 

 

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