A criação é mera projeção, na forma, daquilo que já existe
Shrimad Bhagavatam
Meu nome é Ceila Santos. Nasci mineira e me tornei mãe paulistana. Escrevi o texto do Quem Somos abaixo no ano de 2016 quando a Clarear buscava concretizar sua segunda revista e ganhar forma de coleção. Na época, éramos um trio, que andava com a força de uma dupla, que era guiada pela minha persistência de cumprir a promessa feita a 172 benfeitores, que confiaram em mim na primeira campanha do Tudo ou Nada, feita em 2013.
Escrevo esse registro no ano de 2022 – nove anos depois que a palavra Clarear inspirou tudo que vivi por ela. Fecho este ciclo justamente no ano em que o movimento antirracista pede cuidado com as palavras. Sei o quanto elas tem força, pois seus significados e sentidos podem nutrir nossa forma de se comportar no mundo e perpetuar culturas históricas nas relações. Aprendi sobre o Branqueamento com professor Dennis Oliveira no ano de 2010. Não falávamos sobre o que está registrado hoje na Wikipédia, mas o termo Branqueamento já existia nos estudos culturais. Estudei cultura, história e ideologia no Centro de Estudos Latino-americanos sobre Cultura e Comunicação.
Aprendi a olhar para a questão racial a partir da cultura e das forças subjetivas que estão nas palavras, nas artes e nos projetos. Clarear não era um termo relacionado ao branqueamento racial dentro dos nossos estudos no ano de 2010. Um ano depois de receber todo arsenal do Cellac/USP mergulhei na formação de Educação Pré-Natal e entrei em contato com outro lado do conhecimento: os conceitos sobre memoria pré-natal, epigenética, psico-história, enfim, todo arsenal psíquico e espiritual, que reforçou em mim aquilo que eu já conhecia no âmbito cultural.
O projeto Clarear me deu a oportunidade de compreender a guerra de Hitler porque muitos seguidores esotéricos tiveram que silenciar entre os anos 20, do século passado, diante da confusão que se fazia com a falta de pesquisa e informação existente entre aqueles, que queriam trazer a inteligência emocional da psique e suas influências na educação pré-natal, e os defensores da relação hereditária e genética, que tiveram o desejo de criar a raça pura, que levou nossa humanidade a viver o nazismo.
Quando eu, Iamni e Luca chegamos na missão do projeto, em 2015, não tínhamos ideia de que valorizar a semente da vida estava tão vinculado à complexidade da causa antirracista. Eu sentia os desafios de lidar com as contradições entre o genético, hereditário, cultural, político e econômico no âmbito moral quando refletia e cuidava do conteúdo, mas o nosso foco de atenção estava voltado para o movimento da época, que denunciava a luta de classe das obstetrizes e doulas contra os obstetras do sistema. Vivíamos essas contradições na pele e na busca pelo sonho de fazer junto.
Quando olho para os nove anos da Clarear e vejo o quanto todo meu aprendizado materno passou por perguntas que rondaram desde a consciência jurídica, que me levou para o feminismo até a consciência econômica, que me levou para utopia diante das ideologias, eu agradeço. Entendo que não cabe mais utilizar o clarear para o desenvolvimento da consciência, mesmo diante da perfeição que esse processo representa na analogia do amanhecer e anoitecer para contar sobre os mistérios do caminho lunar e solar na relação com a Terra e suas relações com o desenvolvimento humano.
Sinto muito pelo pedido que ouço do movimento ativista, mas não posso apagar toda correspondência que o verbo clarear representa na minha história de ativista. A Clarear que eu vivi me ensinou sobre o branqueamento racial e me tornou antirracista. Eis, o paradoxo.
Sinto que não posso permitir que Clarear se torne a palavra proibida do movimento antirracista. Posso até torná-la proibida na minha fala antirracista, mas não quero vê-la fechada na história do branqueamento racial.
QUEM FOMOS – 2016
O Clarear é um projeto independente de mulheres, que nasceu na primavera de 2013, com objetivo de suprir demandas de uma roda de educadoras pré-natais a partir da necessidade de uma delas entregar seu trabalho de conclusão de curso da ANEP Brasil. Assim, nasceu a ideia de responder quatro perguntas comuns de gestantes de forma reflexiva com conteúdo da Formação de Educação Pré-Natal.
O financiamento coletivo foi uma dos meios utilizados para transformar a ideia em realidade. Para isso, a idealizadora do projeto promoveu uma campanha no site da Benfeitoria, entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, período em que a ideia ganhou uma equipe de três mulheres. Com a meta atingida da arrecadação financeira, a Clarear ganhou corpo através do trabalho de Ceila Santos, Luca Fernandes e Iamni Freire, as quais deram à primeira pergunta cara de revista. Assim, surgiu a necessidade de vender a revista para cobrir o custo da impressão.
Mais de 80 mulheres aceitaram revender a primeira pergunta, formando o Mapa da Clarear. A maioria, no entanto, não tinha natureza comercial e o trio começou a vivenciar os desafios de um comércio. Desligou muita gente do mapa, reconheceu lugares com a natureza social e percebeu a enorme demanda de gestão neste processo. Nasceu a primeira crise da Clarear e recebemos apoio do grupo de estudos de Economia Associativa, da Sociedade Antroposófica.
Foi no inverno de 2015 que o trio decidiu resgatar a produção da segunda pergunta prometida na campanha de 2013 e assim nasceu o coletivo de 30 autoras, que escreveu 18 temáticas relacionadas à segunda pergunta: Onde eu vou parir porque devo refletir sobre isso?
Agora queremos distribuir nossa segunda pergunta a MIL MULHERES gestantes que frequentam grupos gratuitos da Parto do Principio, hospitais públicos, UBSs e ONGs. Assim, descobrimos que somos uma coleção de quatro perguntas com cara de revista.
Começa em breve nossa segunda campanha no site da Benfeitoria no endereço: benfeitoria.com.br/clarear
Obrigada!
Gostaria de saber se vocês recebem sugestões de pauta. Se for sim, queria saber o endereço. Obrigada.
Oi Carmem, não temos essa demanda de pauta a não ser que seja uma sugestão que esteja envolvida com o projeto editorial, cujas as quatro perguntas já foram divulgadas nas páginas relacionadas do projeto.
Orgulho da minha amiga Ceila Santos.
Obrigada, minha querida Maisa, pelo incentivo de sempre…Bora empreender de forma colaborativa neste mundo de gigantes e de donos da mídia
Oi, amadas!
Vida e Luz para todas.
Desde 1998, fundei com Onze amigos da área da Cultura e das Artes na Bahia, o Movimento Cultural Clarear. Em 2006, 2017 criamos nosso jornal e tentamos criar uma Revista que chegou a ser editorada, mas por falta de recursos não saiu prelo. Contudo, o Movimento Cultural Clarear (nome em homenagem a Santa Clara padroeira dos Artistas), é um movimento muito conhecido em Salvador, no Estado, municípios, Distritos e em outros Estados e Países por ser um movimento parceiro com muitas entidades ligados as citadas áreas acima.
Que bom que há um, dois Clarear!
Abraços,
Clara Maciel – Escritora (Baiana)
Clara, o mais lindo de tudo é que o clarear começa pelo seu nome: parabéns pelo trabalho e bom te conhecer!